THE BOYS: A VOUGHT E O TOTALITARISMO



The Boys é com toda a certeza, uma das séries mais faladas do momento e esse sucesso não é à toa. Com temáticas fortes e extremamente contemporâneas, trata de assuntos como; preconceito, assédio e abuso de poder. Mas possui também, com igual intensidade, cenas intensas de violência, além de grandes atuações que complementam veracidade de toda a crueldade. Entretanto, o ponto que mais chamou atenção foi como a Vought (a empresa que cuida dos supers) é apresentada, representada e desenvolvida na série.
No início da primeira temporada, a Vought é apresentada como uma grande agência de super-heróis – talvez seja uma sátira às agências de celebridade ou à própria mídia global – que ao longo da temporada, percebemos que ela esconde toda a podridão dos supers, colocando como prioridade (acima até da saúde mental e física dos supers humanos) a aparência e popularidade desses meta-humanos, para que assim lucre com a comercialização destes. O outro objetivo da dessa agência (talvez seu principal objetivo) é a chegada até o poder, claro que como a maioria dos golpes de Estado, seja por meios revolucionários ou não, utiliza o próprio sistema como escada (também com mentiras e chantagens, é claro). Neste caso, a Vought precisa que a maioria no governo votem para que os supers integrem o exército americano (e ninguém percebeu que eles querem dar um golpe?) na luta contra “terroristas”.
A grande sacada da série é apresentar a Vought com essa influência nazi-fascista, não através de Tempesta, pois ficou muito claro, mas através das ações feitas para tomada do poder. O primeiro o ponto é o nacionalismo desenfreado para promover ódio, segundo Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo, os dois grandes exemplos de regimes totalitários, o nazismo e stalinismo, usam do nacionalismo como “repastos aos preconceitos das massas”, ou seja em uma simplista explicação, utiliza do discurso ultranacionalista para provocarem ódio à um grupo específico. O Capitão Pátria (Homelander) é o rosto desse discurso da Vought, que além de incitar o ódio na população contra terrorista, foi a mesmo que criou o inimigo (através do composto V). A série trabalha esse ponto tão bem quanto Star Wars fez com Palpatine, que além de comandar a república, era também o lord Sith por trás dos Separatistas.
Uma outra característica, é a motivação bélica dos Estados totalitários, então, mostrar como a Vought surgiu dos nazistas e depois se integrou a sociedade americana de maneira disfarçada, mostra que desde sua origem ela esteve em guerra, assim como nos governos da URRS, Alemanha Nazista e Fascismo Italiano (e o Império Galáctico hehe). No livro 1984 de George Orwell, traz uma alegoria de um governo ditatorial que ele mesmo presenciou (a União Soviética), o George (o Orwell e não o Lucas) mostra a perspectiva de Winston Smith, que relata como desde o nascimento seu país nunca deixou de estar em guerra, isso se dá pelo fato de  que nações com motivações bélicas (que nascem por causa da guerra) necessita da expansão, assim também de continuar em guerra. Podemos até mesmo afirmar que esta seria uma crítica a nação dos Estados Unidos da América que nunca, desde sua origem, deixou de estar em guerra (a família Bush que o diga).
A manipulação pública é o outro grande fator desses (des)governos, que manipulam os dados e informações para motivar a tomada de ações do povo, trazendo uma falsa democracia. É um assunto bem recente nas nossas discussões falar sobre Fake News e pós-verdade, principalmente desde as eleições de 2016 nos EUA, com a vitória de Trump e a grande carga de mentiras que o sustentaram, como dizer que o ex-presidente Obama é membro da Al-qeada, sendo que este era filiado ao mesmo partido de Hillary Clinton, a maior adversária do Trump. A publicidade era com certeza a maior arma no nazismo e stalinismo, filmes eram produzidos, mostrando como seus grandes líderes: Hitler e Stalin eram grandiosos, invencíveis e muito bons com o povo. A manipulação é com certeza uma arte forte e poderosa nas mãos dos governantes, muito mais que superpoderes. Ainda no livro 1984 é possível observarmos como essa manipulação acontecia através do Ministério da Verdade, que destruía e criava dados com o intuito de ser conveniente ao poder, manipulando toda população. Com a Vought não é diferente, que destruiu a antiga identidade da Tempesta, como racista, além de dados que comprovaram que ela integrava o nazismo. A Vought utilizava de assuntos do momento para manipular tomada de decisões e escondia acontecidos como assédio, assassinato e preconceito. Além de violar várias diretrizes dos direitos humanos.
Com isto, a Vought não é apenas uma agência de super-heróis, mas é a clara definição do nazi-fascismo, stalinismo ou qualquer outro governo ditatorial. Estes são os grandes males da humanidade,  a mancha aterrorizante na história. The Boys não só nos diverte, mas também nos ensina que nem tudo é o que parece, que nem tudo que reluz é ouro, não é porque um governo chegou por meios democráticos que ele é a favor da democracia. É utilizar de um produto da Cultura Pop (os heróis) para nos ensinar sobre sociedade. Encerro com a frase de Hannah Arendt: “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”.

Referências:

ARENDT, Hannah.  As Origens do Totalitarismo: anti-semitismo, instrumento de poder. Rio de Janeiro: Ed. Documentário, 1975.

ORWELL, George. 1984. tradução Alexandre Hubner, Heloisa jahn; posfácio Erich Fromm, Ben Pimlott, Thomas Pynchon. – São Paulo: 1º Ed. Companhia das Letras, 2009. 414p. Título original: 1984 INBN 978-85-359-1484-9 1.

Texto originalmente publicado por mim em:

http://enclavedaforca.com.br/2020/10/22/the-boys-a-vought-e-o-totalitarismo/

Comentários

Postagens mais visitadas